Trooper
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CORRUPÇÃO: Via Bertholdo
Nem ia postar nada, mas como o Hades mandou comentários por mensagem privada, vou abrir o tópico pra gente poder entender como a corrupção durante o governo Lula está desenfreada. É extenso, mas vale a pena ler com calma.
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O esquema de Bertholdo
Amigo de poderosos e cotado para o Ministério, o lobista Roberto Bertholdo criou um milionário propinoduto na Justiça do Brasil
Por Hugo Studart e Rudolfo Lago
Colaborou Ana Carvalho
Em uma cela da Polícia Civil, no Paraná, encontra-se Roberto Bertholdo, um advogado articulado, bem educado e sedutor. Preso há oito meses, ele é acusado pelos crimes de tráfico de influência, compra de sentenças judiciais e lavagem de dinheiro. Antes de ir parar no xadrez, Bertholdo era conselheiro da estatal Itaipu Binacional, circulava com desenvoltura nos bastidores dos Três Poderes e estava cotado até para ser ministro do Desenvolvimento ou do Esporte, na última reforma ministerial, na cota do PMDB. Mas o mundo de Bertholdo caiu. Em novembro passado ele foi detido após investigação do Ministério Público. Esta semana, ISTOÉ pôs as mãos em um calhamaço de mais de 500 páginas que descrevem os detalhes do esquema que levou Bertholdo à prisão. Trata-se da Ação Penal Pública (Procedimento Criminal) 2005.70.00.029546-2, que corre na 2ª Vara Criminal de Curitiba, em segredo de Justiça. Os delitos cometidos por Bertholdo, segundo aponta a ação do Ministério Público, envolvem ministros e ex-ministros do Superior Tribunal de Justiça. E mais: o esquema de lobby para venda de sentenças seria administrado por alguns dos filhos desses ministros. Para o Ministério Público, Bertholdo era o pivô, o elo entre clientes e o Judiciário.
A ação, resultado de uma força-tarefa do Ministério Público com a Polícia Federal para investigar evasão de divisas e lavagem de dinheiro, expõe o intestino de um grande esquema de corrupção na Justiça – e, de quebra, muitas histórias paralelas de mensalão, falcatruas no governo, tortura física e sexo. No caso mais grave, ponto central da denúncia de cinco procuradores contra Bertholdo, ele é acusado de oferecer suborno a ministros do STJ para reverter um caso em favor de um cliente. Bertholdo era advogado do empresário e político paranaense Antônio Celso Garcia. Nas eleições de 2002, Tony Garcia, como é conhecido no Paraná, era deputado estadual e candidato ao Senado pela segunda vez – e Bertholdo era seu suplente. Para que pudesse se candidatar, Garcia precisava de um habeas corpus que trancasse um processo no qual era acusado de crime contra o sistema financeiro por envolvimento numa fraude do consórcio Garibaldi, liquidado pelo Banco Central em 1994. Bertholdo foi então contratado para “limpar” o nome de Garcia. No dia 1º de agosto de 2002, ele impetrou habeas corpus em favor de Garcia. É aí que começa a história de corrupção contada pelo Ministério Público, a partir da denúncia inicial de um ex-sócio de Bertholdo, Sérgio Costa Filho.
Por conta de desentendimentos sobre dinheiro, Bertholdo chegou a espancar e torturar Sérgio Costa Filho, que deu o troco fazendo a denúncia. De acordo com a denúncia de Sérgio ao MP, Bertholdo pediu a Tony Garcia R$ 600 mil, dinheiro que seria usado para que o então ministro Vicente Leal concedesse liminar no pedido de habeas corpus. De fato, no dia 2 de agosto, a liminar saiu, por decisão do ministro Vicente Leal e, com ela, Tony Garcia pôde concorrer às eleições. No dia 8 de agosto, Tony Garcia emitiu um cheque de sua empresa, a Maggiore Comércio de Combustíveis Ltda., que foi depositado na conta da empresa de Bertholdo, a Antecipa Consultoria. Aos poucos, o valor foi saindo da conta em vários saques em dinheiro vivo, feito por pessoas como o motoboy Luiz Marcelo Alves.
Uso de laranjas – O MP desconfia que Bertholdo usou de “laranjas” para sacar o dinheiro e depois entregá-lo aos ministros envolvidos na operação em favor de Tony Garcia. Segundo a denúncia feita por Sérgio Costa Filho aos procuradores havia outras pessoas, além do ministro Vicente Leal, envolvidas na venda da sentença. Otávio Fischer e Pedro Aciolli, filhos do ministro do STJ Félix Fischer e do ex-ministro Pedro da Rocha Aciolli, teriam intermediado a operação no Judiciário em Brasília. Após a concessão da liminar, nova operação de dinheiro teria sido feita, conforme mostra a ação. Dessa vez, para assegurar um resultado favorável no julgamento do mérito do pedido de habeas corpus. Sérgio Costa Filho afirmou em seu depoimento que Bertholdo pediu a Tony Garcia R$ 500 mil para garantir o resultado. Tony, porém, conseguiu baixar a quantia para R$ 180 mil. Para o julgamento, Bertholdo trabalhou com a possibilidade de o ministro relator Paulo Galotti negar o habeas corpus. A segunda estratégia para favorecer Tony Garcia, porém, seria o ministro Paulo Medina pedir vistas do processo, postergando a decisão final. Foi o que efetivamente ocorreu no dia 7 de junho de 2004.
É por envolver autoridades do Poder Judiciário, como se vê acima, que o processo corre em segredo de Justiça. Os ministros e seus filhos envolvidos ainda não foram ouvidos no processo. A acusação do Ministério Público ajuda a explicar, porém, como políticos, a despeito dos processos judiciais que sofrem, conseguem se manter no páreo eleitoral. Há duas semanas, por exemplo, o Tribunal de Contas da União divulgou uma lista com nada menos que 2,9 mil políticos e administradores que, por conta de seus atos, estariam inelegíveis. E muitos deles continuam disputando as eleições de outubro.
Roberto Bertholdo não é um preso qualquer. Sua influência em Brasília remonta do governo Collor, mas foi no governo Lula que ele cresceu de forma exponencial. Primeiro foi nomeado conselheiro de Itaipu, se aproximou de grandes fornecedores da Estatal e, ato contínuo, sua casa em Brasília, no bairro do Lago Sul, virou um discreto reduto de conversas entre parlamentares, empresários e autoridades públicas. Em seus negócios privados, Bertholdo virou o representante junto ao Banco Central do espólio do banco Bamerindus, que sofreu intervenção e foi vendido há uma década para o inglês HSBC. Saiu-se tão bem na causa que foi adquirindo participações da família Andrade Vieira, fundadora do banco, até se tornar dono de quase 70% dos direitos sobre o Bamerindus. Em fins do ano passado a família Magalhães Pinto o contratou para tentar terminar também com a intervenção do Banco Nacional, anexado pelo Unibanco – e desta forma liberar R$ 6 bilhões retidos no BC. Nessa época, aos 43 anos, Bertholdo queria finalmente sair das sombras. Articulava com seu amigo do Paraná, o deputado José Borba, líder do PMDB, uma nomeação como ministro do governo Lula, do Esporte ou do Desenvolvimento. Bertholdo foi abatido pela prisão, durante as articulações da reforma ministerial.
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Continua...
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