Darkside  

Voltar   Darkside > Darkside > Comunidade > Futebol
FAQ Calendário Postagens do dia Buscapé Search

Responder
 
Thread Tools
asmur
Trooper
gremio
 

Steam ID: regisfleck
Default [Flame off] Histórias do grenal

07-11-09, 16:42 #1
Então, esse tópico é pra reunir histórias sobre este clássico gaúcho, que na minha opinião é o clássico mais equilibrado e com mais mística de todo o país.

Vou começar com um texto do livro "A história dos grenais", que foi publicado hoje na zerohora.com.

Uma virada de tal contuntência não ocorre impunemente. Dez dias após a derrota do Grenal, o Inter trocou o técnico campeão, Sérgio Moacir Torres Nunes, pelo capitão Carlos Froner. O Grêmio continuou com Ênio Rodrigues e com ele foi disputar a final do Torneio da Legalidade. Contra o Internacional, é claro. Empatou o primeiro Grenal em 1 x 1 e venceu o segundo por 2 x 1, comquistando a taça e revelando um novo valor, Joãozinho, um meia de 1 metro e 64 de altura, rápido, inteligente, apelidade de o Pequeno Polegar. O Grêmio havia encontrato o sucessor de Gessy.

 


As derrotas em grenais eram peçonhentas para o Inter. Froner mal esquentou o lugar no túnel e foi dispensado, substituindo-o o treinador das divisões inferiores, Pedro Figueiró. Pois Figueiró deu-se bem, a princípio. O Grêmio saiu para fazer outra excursão à Europa e o Internacional concentrou-se no Gauchão. Foi vencendo, vencendo e amealhando pontos de vantagem sobre o Tricolor. De repente, faltando cinco jogos para o fim do campeonato, o Inter viu-se lá na frente na tabela, com cinco pontos a mais do que o arqui-inimigo. A 11 de novembro, o Grêmio perdeu mais um ponto ao empatar em 2 x 2 com o Cruzeiro, na Montanha. A diferença a favor do Inter poderia ficar em seis pontos, a três jogos do Grenal. Mas o Colorado surpreendeu seus torcedores e foi derrotado no mesmo dia pelo Guarani, em Bagé, por 2 x 0.

Grêmio e Internacional venceram as usas duas partidas seguintes. Ou seja, havia mais uma e o Grenal. E o Inter contava com quatro pontos de vantagem. Um empatezinho e o Colorado seria bicampeão.

Na noite de 9 de dezembro, o Grêmio jogaria fora de casa contra o Pelotas. O Internacional enfrentaria o Aimoré nos Eucaliptos. Confiantes na vitória, os colorados traçaram um plano cruel para humilhar o adversário. Antes dos jogos, levaram um caixão de defunto para a saída da Ponte do Guaíba. A ideia era bloquear a ponte quando o ônibus do Grêmio chegasse e obrigar o time a acompanhar o próprio enterro. O ônibus, lotado de jogadores mal-humorados e resmungantes, teria de seguir por intermináveis quilômetros um féretro azul, lento e debochado.

O técnico do Grêmio não era mais Ênio Rodrigues, e sim o treinador campeão de 1961, Sérgio Moacir. No momento do embarque da delegação, ele reuniu os jogadores e jurou:

— Se vocês me derem a vitória em Pelotas, eu lhes darei o campeonato.

Contava, talvez, com o cumprimento de outra promessa, esta feita pelo atacante Paulo Lumumba, emprestado pelo Grêmio ao Aimoré no início do ano.

— Garanto que vou fazer a minha parte para dar o título ao Grêmio — disse o jogador.

Um terceiro voto magnetizava o ar naquele final de 1962, o do técnico do Aimoré, Carlos Froner. Magoado pela rejeição sofrida nos Eucaliptos, meses atrás, ele jurava vingança.

Todos estes foram personagens centrais da inesperada e eletrizante decisão do Campeonato Gaúcho.

O Aimoré jantou o Internacional nos Eucaliptos. Ganhou por 3 x 1 e deu olé. Destaque da partida: Paulo Lumumba, autor de dois gols. Finalizado o jogo, o goleiro do Inter, Gainete, atravessou o gramado em silêncio e cumprimentou Carlos Froner. Ao mesmo tempo, em Pelotas, os gremistas faziam a sua parte vencendo o Pelotas por 4 x 0.

Restava, agora, apenas o Grenal. Se o Grêmio vencesse, a dupla terminaria o campeonato empatada em pontos e teria que decidir em partida extra, um supercampeonato. Se o Inter vencesse ou empatasse, conquistaria o bi. Quer dizer, o Colorado continuava precisando só de um ponto, enquanto o Grêmio dependia de quatro.

Mas o Grêmio vinha embalado, confiante, entusiasmado. No Internacional, tudo era medo. A lembrança da virada no último Grenal de 1961, a tradição de vitórias do adversário, os últimos fracassos, cada detalhe servia para abalar a fé dos colorados.

O Grêmio venceu o Grenal de 16 de dezembro. Só podia vencer. Dois a zero, com dois figurantes roubando a cena e transormando-se em personagens principais: o ponta-direita Marino, autor dos gols, e o ponta-equerda Ivo Diogo, ex-jogador do Inter, um dos melhores em campo. Ivo Diogo conquistaria outras glórias pelo Grêmio, e Marino, então, nem se fala. Marino era um ponteiro veloz e objetivo, muito parecido com um outro ponta que faria sucesso no Interncaional oito anos depois: Valdomiro. Jogava no Grêmio desde 1960, mas os dois gols marcados no último Grenal de 62 é que lhe enrijeceram o pé. Em 1963, Marino seria o goleador do campeonato com dezessete gols e, em um ano e meio, assinalaria nada menos do que dez gols em grenais.

O Grêmio saiu dos Eucaliptos, em 16 de dezembro de 1962 certo de que reconquistaria o título. O garoto Luiz Carlos Machado, de doze anos de idade, também tinha essa certeza. Tanto que deixou o estádio aos prantos. Era colorado fanático e não aguentava mais ver seu time perder. Morava na Ilhota desde que nasceu de um parto difícil, puxado a fórceps das entranhas maternas, a operação deixando-lhe um estigma na fronte e fazendo a mãe correr a uma casa de umbanda para lhe fechar o corpo e iluminar a alma. Na Ilhota, o negrinho aprendeu a jogar bola e a ser colorado. Agora, chorando de frustração, ele alisava instintivamente com o dedo a marca de nascença na cabeça e fazia uma promessa:

— Ainda vou jogar no Internacional e vou ganhar todas do Grêmio.

Naquele mesmo ano de 1962, Luiz Carlos ganhou o apelido que lhe faria conhecido em todo o Brasil na década de 1970: Escurinho.

Até alcançar a celebridade, no entanto, Luiz Carlos teria muito a sofrer. Veria o seu Inter levar 4 x 2 ao natural do Grêmio de Marino em 7 de fevereiro de 1963, com dois gols de Ivo Diogo, um de Joãozinho e um de Vieira, descontando Flávio e Soligo para o Colorado. O Grêmio era supercampeão.





asmur is offline   Reply With Quote
Mf Will
Trooper
saopaulo
 

07-11-09, 16:46 #2
bangu x olaria > grenal

Mf Will is offline   Reply With Quote
asmur
Trooper
gremio
 

Steam ID: regisfleck
07-11-09, 17:00 #3
O primeiro ídolo colorado

Médico e pecuarista, Kluwe apaixonou-se pelo futebol e pelo Internacional. Alto, um metro e noventa, forte, veloz, era um ferrenho defensor da máxima pregada por uma quadrinha repetida pelos torcedores da época:

Jogador do Internacional
Chuta a gol de qualquer jeito
Pé esquerdo ou pé direito.

De fato, quando percebia que um companheiro de time só batia em gol com um pé, obrigava-o a substituir a chuteira por uma alpargata e treinar o pé esquecido.

Um sentimento especial alimentava Kluwe e Antenor e dava-lhes forças para levar o Internacional adiante: a vingança. Um dia, o Grêmio teria que levar o troco daqueles 10x0.

Grêmio que sequer tomava conhecimento do despeito dos colorados. Seu grande rival era o Fuss-Ball Porto Alegre, com quem disputava o chamado Wanderpreis. Mas os gremistas logo superaram o adversário. De quinze partidas disputadas com o Porto Alegre, até o dia do Grenal, o Grêmio venceu dez, empatou duas e perdeu três.

Em busca de maiores glórias, o Grêmio bolou, em 1910, uma proposta que daria ao futebol da Capital e do Estado velocidade comparável aos potentes automóveis Hudson, que chegavam a inconcebíveis noventa quilômetros por hora. Em 12 de março, o diretor de campo do Grêmio, Oswaldo Siebel, apresentou a ideia de realizar um torneio entre todos os clubes da cidade com premiação para o vencedor. Aprovada a proposta, o próprio Siebel encarregou-se de convidar as demais associações: o Fuss-Ball Porto Alegre, o Internacional, o Militar, o Esporte Clube Nacional, o 7 de Setembro e o Fuss-Ball Manschaft Frisch Auf. Este último, evidentemente, fundado pela colônia alemã. Os clubes organizaram a Liga Porto-Alegrense de Foot-Ball, da qual Siebel foi o primeiro presidente.

asmur is offline   Reply With Quote
asmur
Trooper
gremio
 

Steam ID: regisfleck
07-11-09, 17:01 #4
Segundo jogo, primeira briga

Nasceu, dessa forma, o vibrante Campeonato da Cidade, propulsor da rivalidade grenal. Rivalidade cabalmente demonstrada já no segundo jogo entre os dois times. O Grêmio chegou ao clássico como favorito. Vinha amassando os adversários. Suas duas últimas partidas, contra o 7 de Setembro, foram goleadas de 8 x 0 e 7 x 1. Mas o Internacional se prepara para o jogo. Kluwe estava no time e era o maior incentivador dos seus companheiros. E Antenor Lemos, apesar de ser um jogador medíocre, ia para a Cervejaria Bopp, na Praça da Alfândega, e de lá propalava com seu vozeirão que chegara a hora da vingança.

Na fria e ventosa tarde de 17 de julho de 1910, um domingo, os dois times se encontraram pela segunda vez. Jogo realizado no campo do Militar, na Várzea, parque que em 1935 seria rebatizado como Farroupilha. O Grêmio enfiou 5 x 0. Dois destaques na partida: nas goleiras, uma engenhosa novidade - redes que evitavam o bate-boca sobre se a bola entrara ou não; e o grande Edgar Booth, que por duas vezes estufou a rede flamante ou Internacional. Booth foi o pivô da primeira briga em grenais. Depois de apanhar a bola no meio e aplicar dribles em toda a defesa colorada, ele acabou barrado por um violento pontapé do irritado zagueiro Volksmann, que não aguentava mais aquela falta de respeito. Fechou o tempo. Jogadores das duas equipes trocaram tapas e por pouco o jogo não foi encerrado ali mesmo.

A vendeta do Inter foi adiada.

O Grêmio ainda enfiou 15 x 0 no Nacional, venceu todos os outros jogos com facilidade, mas foi derrotado pelo Militar por 4 x 1. O título ficou com o Militar que fechou naquela mesma temporada. O ano seguinte, 1911, trouxe um Grêmio ainda mais forte. Diretamente da Alemanha, chegaram Bruno Schuback e Gustavo Mohrdieck. A dupla foi acoplada de imediato na zaga gremista e fechou o gol de Teichmann. Na frente, entrou o carioca Edwin Cox, ex-jogador do Fluminense, driblador infernal, que chegou não só para fazer companhia a Booth, mas também para ensinar aos novos colegas sutilezas do futebol até então desconhecidas no Sul. Foi Cox, por exemplo, quem convenceu os dirigentes gremistas de que o time deveria ser escalado pelos jogadores nos treinos, e não nas reuniões de diretoria. Eleito capitão, era Cox, agora, quem divulgava as escalações.

asmur is offline   Reply With Quote
asmur
Trooper
gremio
 

Steam ID: regisfleck
07-11-09, 17:03 #5
Terceiro Grenal, gol revolucionário

Foi Cox também o autor de um assombroso gol de Charles no Internacional, em 18 de junho. Era o terceiro Grenal, jogo muito esperado por torcedores e pela imprensa. O juiz Theobaldo Fôrnges chegou a importar uma refulgente jaqueta da Alemanha especialmente confeccionada para jogos de futebol. O Internacional vinha se apresentando bem e muita gente garantia que, desta vez, a história seria diferente.

Não foi. Terminou sendo até pior. Abaixo de muita chuva, o Grêmio venceu por 10 x 1. Pelo menos o Inter marcou o seu gol de honra, autoria do ponta-esquerda Vinholes. Nada que servisse de consolo para o amargurado Carlos Kluwe, que decretou:

— Só posso deixar essa coisa de futebol depois de uma vitória sobre o tal de Grêmio. E das grandes!

Enquanto Kluwe, Lemos e seus companheiros juntavam os cacos, o Grêmio passava sobre os adversários como uma locomotiva. Sagrou-se campeão da cidade de forma invicta. Imprensa e torcida despetalavam-se em elogios à dupla Schuback e Mohrdieck. Eram zagueiros tão bons que, quando Viana, do 7 de Setembro, assinalou um gol no Grêmio, foi carregado nos ombros dos torcedores ladeira acima. Isso que o Grêmio venceu o 7 de Setembro por 10 x 1!

Não seria o solitário gol de Vinholes no Grenal, porém, a contentar Antenor Lemos. Não suportando ver o Grêmio campeão, ele, pela primeira vez na história do futebol gaúcho, recorreu ao tapetão, a Justiça Desportiva.

Alegando que o meia Moreira viera de Pelotas depois de iniciado o campeonato, Lemos contestou o título gremista na Liga, mas foi derrotado. Outra novidade do campeonato de 1911 foi a cobrança de ingressos. A entrada para o Grenal valeu quinhentos réis, gerando revolta entre os torcedores. A direção do Grêmio explicou que só tomara a medida por estar gastando muito na construção do novo pavilhão da Baixada. Nos anos posteriores, entretanto, a cobrança de ingressos foi institucionalizada.

O futebol, portanto, deixou de ser a distração de alguns rapazes da elite e transformou-se em espetáculo.

asmur is offline   Reply With Quote
Dr_Phibes
Trooper
riopreto
 

07-11-09, 17:37 #6
Muito texto e pouca foto.
Eu sei lê só as figura só.

Dr_Phibes is offline   Reply With Quote
asmur
Trooper
gremio
 

Steam ID: regisfleck
07-11-09, 17:50 #7
Algumas imagens pra ilustrar então:

Fair Play em grenal.
 


 


A ficha do primeiro grenal:
 


A puxada da carroça:
 


Era tradição até pouco tempo, hoje em dia praticamente morreu esse costume. Quem perdia o grenal tinha que puxar a torcida adversária.

E não podia faltar gaúchas.
 

asmur is offline   Reply With Quote
Dr_Phibes
Trooper
riopreto
 

07-11-09, 17:55 #8
Agora sim \o/
se eu pudesse positivar eu positivava,,,

Dr_Phibes is offline   Reply With Quote
kav
Trooper
gremio
 

07-11-09, 18:13 #9
eu tenho o livro de onde essas histórias foram tiradas
pra mim, uma das história mais legais é a do campeonato farroupilha

kav is offline   Reply With Quote
asmur
Trooper
gremio
 

Steam ID: regisfleck
07-11-09, 18:41 #10
Vídeo: A história do grenal farroupilha.


asmur is offline   Reply With Quote
Mf Will
Trooper
saopaulo
 

07-11-09, 20:41 #11
só falei a verdade.

minha opinião.

7 3 3

Mf Will is offline   Reply With Quote
gusto
Trooper
coritiba
 

08-11-09, 00:05 #12
Olha um Schroeder ali no Inter

gusto is offline   Reply With Quote
serjaum
Master Chief
remo
 

Gamertag: serjaum
08-11-09, 00:06 #13
fura, manera ta?

serjaum is offline   Reply With Quote
Biel
Trooper
ds
 

08-11-09, 18:32 #14
Na boa, o clássico mais raçudo e mais brigado é o Grenal, independente da situação dos times é com certeza um jogão, os times jogam dando o sangue.

Biel is offline   Reply With Quote
kav
Trooper
gremio
 

08-11-09, 22:40 #15
É no Grêmio, gusto.
Inclusive tem uma faixa no olímpico com a escalação do time do primeiro grenal e sempre quando vejo lembro de ti HUE

will, qual o rival do são paulo?

kav is offline   Reply With Quote
Bullet
Trooper
saopaulo
 

09-11-09, 09:18 #16
kav

o brasil todo

Bullet is offline   Reply With Quote
Kenny
Trooper
corinthians
 

09-11-09, 09:22 #17
Quote:
Postado por kav Mostrar Post
É no Grêmio, gusto.
Inclusive tem uma faixa no olímpico com a escalação do time do primeiro grenal e sempre quando vejo lembro de ti HUE

will, qual o rival do são paulo?
O rival do Bambi FC é a Portuguesa de Desportos.

Kenny is offline   Reply With Quote
Bullet
Trooper
saopaulo
 

09-11-09, 09:24 #18
na verdade no brasil nao tem nenhum mesmo

633

tinha q ser real madri... milan....

Bullet is offline   Reply With Quote
Mf Will
Trooper
saopaulo
 

09-11-09, 09:45 #19
rival...

NAO TEM

Mf Will is offline   Reply With Quote
asmur
Trooper
gremio
 

Steam ID: regisfleck
10-11-09, 22:44 #20
As lágrimas turvaram a visão do meia Bráulio e ele quase deixou escapulir a bola que lhe fora rolada com doçura por Dorinho. Ante a pressão do voluntarioso gremista Jadir, livrou-se dela com um passe lateral para Sadi. Continuou caminhando e soluçando pela intermediária, sem prestar atenção no jogo. Um assustado João Severiano aproximou-se e sussurrou:

— Pô, mas o que é isso? Para de chorar, garoto. Tá todo mundo te olhando!

Bráulio o chicoteou com um olhar furioso.

— Não fala comigo! — Rosnou. — Tô com raiva de vocês e daquele treinador gremista!

João Severiano se afastou, balançando a cabeça em resignação. Esqueceu-se logo do inconformado adversário. O árbitro João Carlos Ferrari apitou o final do jogo, levantando os braços. Décimos de segundo depois, foi a vez de João Severiano e toda a torcida do Grêmio levantarem os braços num urro de alegria. Bráulio não viu a festa. Abandonou o campo ainda chorando. E o choro prosseguiu resfolegante enquanto ele tirou as chuteiras e o uniforme, entrou no banho, vestiu-se de novo e embarcou no Aero Willys do capitão do Inter, Sadi. Recuperou-se quando o carro o deixou na casa da noiva, Nina Rosa, na Barão do Amazonas. Abriu a porta e o futuro sogro, seu Telmo, tentou um consolo bem-humorado:

— Torci pra que tu jogasse bem, mas queria que o Grêmio ganhasse.

Para quê! Bráulio arregalou os olhos injetados, as narinas se dilataram em busca de todo o ar da sala, o rosto ficou rubro como a camiseta do Internacional.

— O que que eu tô fazendo aqui, numa casa de gremista?! — indignou-se.

Saiu batendo a porta, jogando a aliança longe, gritando que o noivado estava desmanchado.

Mais tarde, claro, reataria com Nina Rosa, casaria com ela e com ela teria filhos. Mas naquele 2 de junho de 1968 sua ira parecia-lhe justificada. O Inter perdera mais um campeonato qualquer: o Grêmio sagrara-se heptcampeão. Pior: o Grêmio enfiara 4 x 0.

— Tudo por causa daquele treinador gremista! — Não cansava de repetir Bráulio entre os dentes, ao se distanciar a passos militares da casa da noiva.

O treinador gremista a que se referia era o técnico do Internacional. Oswaldo Rolla, o Foguinho, fora contratado pela direção colorada num lance de desespero, a fim de impedir a angustiante sequência de campeonatos do Grêmio. Sequência da qual Foguinho era o símbolo vivo. Havia sido exatamente ele o introdutor desta nova maneira de jogar futebol no Rio Grande do Sul. Homens fortes, vigorosos, que tivessem talento para tocar a bola com a sutileza de um pianista, mas que principalmente reunissem disposição para correr o campo todo e marcar o adversário com a determinação de um muçulmano. O Inter, ao contrário, seguia praticando o futebol "bonitinho mas ordinário", como se dizia então, numa alusão à peça de Nelson Rodrigues. Virtuoses da bola passavam os noventa minutos enchendo os olhos da torcida com balõezinhos e toques de trivela, para, no final do campeonato, entregar a taça do Grêmio.

Foguinho foi o emblema do desejo de mudança do Internacional. Chegou a tentar impor suas ideias, mas não obteve sucesso. No final do campeonato, pouco antes do Grenal decisivo, declarou, para a surpresa do Rio Grande inteiro:

— Será a luta da arte contra a força.

Uma luta desigual. O Grêmio tinha dois pontos de vantagens na tabela e uma superioridade flagrante no campo. A defesa não tinha mais Airton, o Pavilhão, mas nela se destacava um competente sucessor de Ortunho chamado Everaldo. O meio de campo com os laboriosos Cléo e Jadir. Nas pontas, o lépido Babá e o driblador Volmir Maçaroca. A velocidade inteligente de João Severiano na ponta de lança e, no centro do ataque, fincado entre os zagueiros como um búfalo inquieto, o matador Alcindo, o Bugre Chucro.

Não bastasse a força do adversário, o Internacional debatia-se em dissensões intestinais. "Os jogadores não suportavam o Foguinho", conta Bráulio. "Hoje isso pode parecer bobagem, e é mesmo, mas nós achávamos que ele era gremista e por esse motivo a maioria dos jogadores não o aturava".

Quem mais implicou com o apregoado gremismo de Foguinho foi o goleiro Gainete. Brigou com o treinador dias antes do Grenal e acabou cortado do jogo. Foguinho chamou o goleiro Schneider e lhe atirou no peito a camisa número 1.

— O senhor será o titular na decisão — anunciou.

Schneider fitou a camiseta de mangas compridas com o olhar devoto de quem contempla um ídolo sagrado. Era um goleiro jovem. Tão jovem que jamais havia participado de um Grenal, clássico que Gainete disputava desde 1962. Vendo a cena, os demais jogadores tremeram. Mas Schneider entrou em campo. À sua frente, Laurício, Scala, Luiz Carlos e Sadi. No meio, o ex-gremista Élton, um dos jogadores preferidos do Foguinho, o futebol clássico de Dorinho e a habilidade de Bráulio. No ataque, um ponteiro direito aplicado que passou o ano sendo vaiado pela torcida, Valdomiro, vindo do Comerciário de Criciúma. Na outra ponta, Othon, e entre eles um centroavante de incomum explosão muscular. Claudiomiro.

Logo aos dois minutos, Foguinho mandou a massagista Antenor Moura dizer a Othon para vir buscar o jogo no meio. Othon não obedeceu. Aos quinze, Foguinho gritou, carregando nos erres, como de costume:

— Seu Othon, procure o jogo, não fique parado na ponta!

Othon não obedeceu.

Do outro lado, o técnico do Grêmio, Sérgio Moacir Torres Nunes, estava calmo. Via seu time jogando melhor, dominando a partida aos poucos e inexoravelmente. Aos trinta minutos, Claudiomiro fo lançado e não correu. Foguinho se irritou:

— O que há, seu Claudiomiro? O senhor tem que disputar o jogo!

Aos quarenta, Alcindo caiu dentro da área. A torcida do Grêmio pediu pênalti. Sérgio Moacir também. O juiz marcou escanteio. Depois de esbravejar, Sérgio se conformou:

— Tudo bem, Deus é grande — disse para ele mesmo. — Pode ser que o gol saia agora.

Não saiu.

Se, como Mendes Ribeiro dizia, Deus não joga, mas fiscaliza, Seu dedo de fogo só iria fazer justiça no segundo tempo.

Já no intervalo, no entanto, a espada vingadora do arcanjo Gabriel parecia pender sobre as cabeças coloradas. No vestiário, o zagueiro Scala procurou o treinador, reclamou de dores no joelho direito e avisou que não tinha condições de continuar. Foguinho não conteve a indignação.

— O homem está remendo — ironizou. E, virando-se para o zagueiro reserva, ordenou: — Entra, seu Nitota.

Nitota teria que enfrentar o Bugre Chucro. Atrás dele, Schneider, inexperiente como um seminarista. O Inter voltou a campo ainda mais apreensivo.

Tinha motivos. Os jogadores do Grêmio saíram do vestiário rilhando dos dentes, com olhares esfomeados para a bola. Oito minutos depois do reinício da partida, Babá foi derrubado na área do Inter. Ferrari não marcou nada. Mal passaram três minutos e Alcindo cobrou com perfeição maliciosa uma falta perto da área. Gol. Os colorados ainda não haviam se recuperando quando Joãozinho fez o segundo, os treze. O Inter estava liquidado. Mas o Grêmio não parou. O técnico Sérgio Moacir gritou do túnel:

— Tem muito jogo ainda.

E tinha. Aos 22, Volmir ampliou para 3 x 0. Aos 28, Nitota derrubou Alcindo dentro da área. O próprio Alcindo cobrou o pênalti, finalmente assinalado por Ferrari. Encerrou a goleada e a carreira de Nitota, que, depois daquele jogo, submergiu para sempre na obscuridade.

No dia seguinte, os gremistas cruzaram com os colorados na Rua da Praia e mostravam-lhes os quatro dedos da mão. Durante a sessão da Assembléia Legislativa, o deputado Ary Delgado, ex-presidente do Grêmio, circulou pelo planário com o que dizia ser o Projeto de Lei 15/68. O projeto dispunha "sobre o baile no futebol". O principal artigo considerava crime "qualquer baile realizado sem o atendimento dos sentimentos de compaixão e piedade cristã". Os deputados gremistas riram muito e assinaram o projeto. O colorado Pedro Simon lamentava-se atrás do bigode. Reclamava que o Inter, um clube popular, tinha Ildo Meneghetti, um arenista, como patrono, e José Alexandre Zachia, outro integrante da Arena, na Presidência, além de Oswaldo Rolla, um gremista, como técnico.

— Não pode ter melhor sorte mesmo — suspirava o deputado.

Se os parlamentares colorados sofriam, o que não dizer dos eleitores. No afastado e pacato bairro Sarandi, na Zona Norte de Porto Alegre, Dinarte Oliveira Santos e Ademir da Silva, o Niqueta, precisaram de muito fôlego e bom humor para pagar a aposta perdida para os gremistas Lauro Schmidt e Vilmar Gonçalves, o Fogareiro. Sob os apupos de toda a vizinhança, os colorados formaram uma parelha e puxaram tropegamente uma carroça pelos paralelepípedos do bairro.

asmur is offline   Reply With Quote
Helsing
Banned
saopaulo
 

10-11-09, 23:26 #21
Quem aqui leu alguma coisa? Só por curiosidade.

Helsing is offline   Reply With Quote
gusto
Trooper
coritiba
 

10-11-09, 23:35 #22
Quote:
Postado por kav Mostrar Post
É no Grêmio, gusto.
Inclusive tem uma faixa no olímpico com a escalação do time do primeiro grenal e sempre quando vejo lembro de ti HUE

will, qual o rival do são paulo?
pode cre, vi errado.

gusto is offline   Reply With Quote
asmur
Trooper
gremio
 

Steam ID: regisfleck
11-11-09, 00:23 #23
Quote:
Postado por Helsing Mostrar Post
Quem aqui leu alguma coisa? Só por curiosidade.
Esses textos são muito legais pra quem curte a história do futebol.

asmur is offline   Reply With Quote
Biel
Trooper
ds
 

11-11-09, 08:52 #24
Dunner, se vc não ta querendo contribuir pra organização do fórum então não precisa fazer esse tipo de comentário.

Na boa? Só começa com a onda de flames.
Se o grenal não faz diferença pra vc, nem os textos, não leia e não comente.

Biel is offline   Reply With Quote
u3663
Trooper
saopaulo
 

11-11-09, 09:07 #25
Quote:
Postado por Helsing Mostrar Post
Quem aqui leu alguma coisa? Só por curiosidade.
Eu li.

E seu post foi bem util para alguem que não frequenta o futebol.

u3663 is offline   Reply With Quote
Helsing
Banned
saopaulo
 

11-11-09, 11:48 #26
Obrigado, matei minha curiosidade... Eu dei uma zoiada por cima... é meio engracado... to morando aqui em poa agora... e o povo é doente mesmo...

Helsing is offline   Reply With Quote
Responder

Tags
gremio, inter


Regras de postagem
Você não pode criar novos tópicos
Você não pode postar
Você não pode enviar anexos
Você não pode editar seus posts

BB code is On
Smilies are On
[IMG] code is On
HTML code is Off

Atalho para Fóruns



O formato de hora é GMT -3. horário: 21:23.


Powered by vBulletin®
Copyright ©2000 - 2024, Jelsoft Enterprises Ltd.