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Default Leandro Karnal: 'Lúcifer é o primeiro empreendedor de todos os tempos'

08-04-17, 17:56 #1
 


RIO - O filósofo Leandro Karnal, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), se viu no centro de uma recente polêmica ao postar, nas redes sociais, a foto de um jantar com o juiz Sérgio Moro, no mês passado. Entre ataques raivosos e defesas apaixonadas, o professor, que tem quase 1 milhão de seguidores e ganhou fama por abordar de forma clara temas complexos da filosofia, se tornou exemplo do tema sobre o qual refletiu em sua própria obra, “Pecar e perdoar” (HarperCollins Brasil). O livro, publicado em 2014 e que acaba de ser relançado, propõe uma reflexão sobre o julgamento tendo como fio condutor a Bíblia. Em entrevista ao GLOBO, por telefone, Karnal é criativo e provocativo ao analisar as escrituras, do Velho e do Novo Testamento, busca associar personagens como Lúcifer, o anjo caído, com o presente e aponta que a visibilidade das redes sociais multiplicou a nossa capacidade de julgar os outros.

“Pecar e perdoar” é um livro sobre julgamento. Julgar é humano? Ou foram as religiões que nos tornaram julgadores?

As religiões, apesar de darem a base moral para os julgamentos, sempre insistem em não julgar os outros. As religiões, ao mesmo tempo, e contraditoriamente, fornecem a base material para inventar o pecado, mas também recomendam quase universalmente a misericórdia, a compaixão, o perdão, o não julgamento. Faz parte de um jogo complexo. Nós gostamos de julgar. Se fosse apenas por causa da religião, em regimes ateus como a União Soviética ou a China de Mao-Tsé-Tung não teriam ocorrido julgamentos. Então eu diria que, apesar de a religião dar o vocabulário, o julgamento é humano, não é exatamente religioso.

Normas, regras e leis não seriam necessárias para tornar a convivência entre as pessoas possível? Há um ponto de equilíbrio entre não julgar ninguém e julgar tudo?


O impulso de fazer muitas leis é uma tendência regular. Nós temos mais leis do que problemas regidos pela lei. No caso do Brasil, nós criamos uma grande quantidade de leis, sem pensar de fato que elas podem ser cumpridas. Para viver em grupo, como todos os filósofos destacam, nós precisamos criar regras mínimas de convívio. As regras mínimas estabelecem espaços onde eu posso ser ou não ser. Porém o nosso impulso de normas é muito maior do que isso, e cada norma implica mais regras. Quanto menos um país se dispõe a cumprir a lei, mais regras e leis tem. Quanto mais você multiplica a norma, menor é a vontade que você tem de fazê-la valer. A nossa sociedade é tão indignada com a corrupção porque quase todos nós somos corruptos. A quebra da norma pelo outro mostra o espaço do meu desejo de quebrar também. Se não, não me incomodaria tanto.


Por que o erro, o pecado, é tão sedutor?

Nós temos uma sedução profunda pelo mal. De longe o demônio é o anjo mais interessante. Compare a biografia de Lúcifer com a do arcanjo Gabriel, que faz o anúncio a Maria. De longe o demônio, o erro e o desvio são muito mais sedutores para nós. Você vai lembrar para sempre de Odete Roitman, ou de Nazaré Tedesco, mas não vai lembrar a personagem boa, pura. Nós gostamos dos rebeldes. Nós gostamos de quem quebra a regra. A liderança numa sala quase sempre está naquele que infringe as regras, e não no nerd. O nerd exerce pouca liderança numa sala. Nós gostamos do pecador. E, aliás, Deus também no cristianismo parece ter uma predileção pelo pecador.


No livro, você lança um olhar positivo sobre Lúcifer, o anjo caído. Por que viveríamos “tempos luciferinos”, como você diz?

Essa visão positiva de Lúcifer aparece na literatura quando John Milton, em “Paraíso perdido”, põe na boca do demônio a seguinte frase: “é melhor reinar no inferno do que ser escravo no céu”. Essa é uma noção de empreendedor. Prefiro o meu pequeno negócio do que ser empregado numa grande instituição. O empreendedor clássico sempre se orgulha do ilícito. Steve Jobs, na sua biografia, conta que criou uma máquina para roubar o sinal interurbano da AT&T. Napoleão começou sua carreira como político em 1799, dando um golpe no regime que jurou defender. O empreendedor, o grande líder é louvado porque é alguém que quebra as regras, inclusive as leis, aceitas pelo grupo. Lúcifer é o primeiro empreendedor de todos os tempos porque saiu da caixinha. Lúcifer é o sonho do RH, né? (risos). Sem a infração de Lúcifer, assim como a de Adão e Eva, não haveria História. O mundo seria perfeito, com anjos no paraíso. O que criou a História do mundo foi a rebeldia, as quebras do padrão e das estruturas. Todas as vanguardas, sem exceção, são assim.

Mas não há limites para romper com essa caixinha?

Vários empreendedores, ao longo da História, abriram um vale-tudo. Nos Estados Unidos, a virada do século XIX para o XX foi chamada a época dos barões-ladrões, de Rockefeller, dos Morgan, dos Dupont. Um vale-tudo mesmo. O empreendedor precisa quebrar as regras e permanecer livre. Em geral, isso é dado pela associação com o poder. É isso que garante que quem transgrediu as leis defina o padrão da impunidade. Quando ele perde esse controle do poder, ele passa de megaempreiteiro a hóspede em Curitiba. Se continuasse no controle, manteria o seu sucesso e seria louvado no Fórum de Davos. Hoje emerge um discurso complexo de juntar a questão da ética ao empreendedorismo. Isso é recente, mas está emergindo em vários campos. Talvez porque seja mais difícil empreender e burlar a lei.


Hoje, todas essas questões de julgamento moral que sempre nos rodearam parecem potencializadas pelas redes sociais. Temos a possibilidade de julgar muito mais, numa escala muito maior. O senhor concorda?

Aumentamos a exposição e multiplicamos a inveja. E multiplicando a inveja, multiplicamos o julgamento. A inveja é um pecado envergonhado, como eu digo no livro. No Facebook, todos são felizes, todos têm famílias maravilhosas, finais de semana extraordinários. Nunca ninguém postou a frase “brochei”. Ninguém jamais fez esse post. Então, como todos são felizes, como todos têm uma vida fascinante, a maioria das pessoas vai acreditando nisso. E acreditando vai desenvolvendo a inveja em relação ao outro.

O seu jantar com o juiz Sérgio Moro gerou grande repercussão nas redes. A polarização exacerba o julgamento?

Somos grandes vigilantes uns dos outros. Estamos num momento polarizado, não é um momento de cinza, mas de preto e branco. Tudo o que não for polar é criticado. Não equilibrado, como chamaríamos no século XIX, mas isentão. Não ser petralha ou coxinha é ser isentão. E o narcisismo hoje é definidor da nossa cultura. De tal forma que a frase que mais se multiplica é “ele me representa” ou “ele não me representa”. Algumas pessoas me disseram isso. “Eu não jantaria com o Moro”. Eu respondi: então, assim que ele te convidar, recuse. Não há problema nenhum nisso. Mas, enquanto for futuro do pretérito, é simplesmente desejo de polaridade invertida. Jesus comeu com Judas na última ceia. Não é o convívio que afeta o seu princípio. Essa necessidade de berrar para o mundo “eu vou te bloquear porque você jantou com quem eu não jantaria” é narcísica e infantil. A decepção advém da perda de controle sobre o outro. Ele não fez o que eu gostaria de fazer. É bom que aconteça isso. Não quero ser marionete da vontade alheia.

“Pecar e perdoar”
Autor: Leandro Karnal
Editora: HarperCollins Brasil
Páginas: 208.
Preço: R$ 34,90

http://oglobo.globo.com/cultura/livr...empos-21180160

Karnal não é filósofo . Ele é um marketeiro genial. Pega um produto hermético (Filosofia ou religião) e distribui doses homeopáticas que todo mundo entende. As pessoas se acham inteligentes e compram mais livros, vão nas apresentações. não é filosofia é um show. Nisso ele é bom. Conheço um professor de Filosofia que odeia o esquema . Mas não sei se é pelo conteúdo que ele dizia ser raso ou se era inveja pela criação que encanta multidões.






Last edited by NITRO; 08-04-17 at 18:06..
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