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percezione
Trooper
 

Steam ID: brunorei
Default [2012] O som ao redor

17-01-13, 01:25 #1
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Depois de amealhar prêmios em importantes festivais de cinema mundo a fora e ainda entrar para a lista dos melhores filmes de 2012 do The New York Times, O Som ao Redor chega aos cinemas brasileiros respaldado pelo reconhecimento inequívoco: trata-se de uma grande e pungente obra de cinema. E nacional, o que é melhor. Não causa surpresa o fato deste longa, dirigido e roteirizado por Kleber Mendonça Filho (autor do premiado curta Vinil Verde, de 2004), vir de Pernambuco. O Estado nordestino faz hoje o melhor e mais inventivo cinema do país.

O Som ao Redor é mais uma produção a legitimar esse momento inspirado do cinema pernambucano. Leva às telas uma Recife urbana que parece padecer de enfermidade nascida do choque entre o velho e o novo. Um local cosmopolita, a olhos vistos desenvolvido, mas que esconde em suas vísceras o miasma oriundo dos piores vícios humanos. Apontando sua câmera para o mundano – que aqui é colocado em lugar de destaque -, o cineasta cria uma espécie de thriller de muitas camadas no qual a tensão e angústia são crescentes e desconcertantes para o espectador.

O longa retrata o cotidiano dos moradores de uma rua de classe média da zona sul do Recife. Daqueles lugares que passamos de carro e percebemos de relance edifícios misturados a algumas poucas casas resistentes e empregados levando os totós das madames pelo passeio arborizado. Típico local de apartamentos-reinados cheio de “tronos” e gente “com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar”, como dizia Raul Seixas. É neste universo corrente e, ao mesmo tempo, ignorado - lugar cuja arquitetura resume-se a barrar o elemento externo e proteger quem está dentro - que Mendonça Filho nos propõe explorar em O Som ao Redor.

Entrar no dia-a-dia dessas pessoas, invadir seus espaços, revela-se uma provação. Começamos a perceber, aos poucos, algo de muito errado e doentio num corpo social que luta por disfarçar os muitos sintomas de sua moléstia. Há nesta observação – que o jogo de câmera, edição de som e fotografia ajudam a galvanizar - um clima de suspense difuso, que está presente nos atos mais cotidianos. O diagnóstico cabe ao público, que não demora a perceber o quão insalubre e instável é este microcosmo urbano que, a despeito da aparente modernidade, é permeado por aspectos antiquados.

Parte dos imóveis da rua são ou foram de propriedade de um velho rico, Francisco (W. J. Solha, de Era Uma Vez Eu, Verônica), que tenta manter o controle do local como uma espécie de senhor de engenho autoritário e controlador. Orbitando a seu redor estão seus familiares, como os netos João (Gustavo Jahn), corretor de imóveis entediado com seu trabalho - que experimenta um relação de amor frágil pela jovem Sofia (Irma Brown) - e o perdido Dinho (Yuri Holanda), jovem bem nascido que flerta com a criminalidade sem motivo aparente. Há também na rua uma mãe de família Bia (Maeve Jinkings), que fuma maconha às escondidas dos filhos e cujo maior inimigo é o cachorro do prédio vizinho.

Em dado momento chega por lá um grupo de seguranças de rua, comandado por Clodoaldo (Irandhir Santos, de Febre do Rato), que oferece proteção aos moradores ao custo de uma mensalidade de R$ 20. Ele logo percebe que a autorização para trabalhar no local depende menos da decisão pessoal de cada morador e mais do aval do velho Francisco, que vê no grupo uma maneira de exercer seu poder também por meio da força. A analogia com o senhor de engenho se faz clara outra vez por meio da milícia do “capataz” Clodoaldo.

A chegada deste personagem e seus capangas traz mudanças à trama, mas não uma virada de roteiro tradicional. O filme mantém-se sustentado em pequenos acontecimentos mundanos, que se revelam ainda mais inquietantes do que aqueles vistos numa trama comum movida à ação e reação. A vida desses personagens, sua atitudes e também apatias e tédios diante das próprias existências são os responsáveis pela dinâmica asfixiante deste filme, por que não dizer, de horror. E o assustador e temerário aqui está na familiaridade que O Som ao Redor desperta na gente.

cineclick
Esse filme deve tá passando nos cinemas culturais das suas cidades, procurem pra assistir, vale a pena.

De bônus um curta do mesmo diretor, Kleber Mendonça Filho, Recife Frio. Nesse curta o Recife sofre uma mudança climática repentina e se torna um lugar muito frio, repleto de pinguins (assistam, é muito bom. Engraçado e interessante). Desde Ilha das Flores, o documentário brasileiro mais premiado internacionalmente...

Recife frio
(um teaser do O Som ao Redor aparece no inicio)


Vinil Verde (eu vou colocar a explicacao de um jornalista britanico que fala sobre curta)

http://www.youtube.com/watch?v=750ywyKLCs8#t=3m10s

Detalhe que o cara so veio obter qualquer ajuda da ANCINE neste primeiro longa, onde a produção realmente ficou foda. Antes ia se virando como dava... No Rio qualquer pecinha de teatro de ator medíocre da rede globo recebe milhões de investimento do governo.





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percezione
Trooper
 

Steam ID: brunorei
17-01-13, 01:41 #2

percezione is offline   Reply With Quote
Vassourada
Cada vez mais ridículos
 

17-01-13, 10:18 #3
Bom tópico Percezione. Ainda não tive oportunidade de ver o filme, mas o Kléber já é famoso por seus curtas. Dizem que o filme parece uma versão longa metragem de um dos seus mais famosos curtas, o Eletrodoméstica (que parece um "prequel" do Recife Frio, no que se diz ao cotidiano da classe média).

Pra quem quiser conferir:
http://portacurtas.org.br/filme/?name=eletrodomestica

Vassourada is offline   Reply With Quote
NewKa
Trooper
 

17-01-13, 16:40 #4
pra mim o único problema é a progressão MUI lenta do filme. Ah, tem outro: ele utilizou "conceitos" do eletrodomésticas (que não deixa de ser muito legal).

No mais, recomendo MUITO! Um ótimo retrato da classe média aqui em Ricifi.

NewKa is offline   Reply With Quote
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